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  • Foto do escritorDra. Amanda Zilio

Cirrose: o que é, causas, sintomas, diagnóstico, tratamento e prevenção

Atualizado: 26 de out. de 2023




A cirrose é uma doença crônica e irreversível que afeta o fígado, um órgão vital para o funcionamento do organismo. A cirrose se caracteriza pela substituição das células saudáveis do fígado por tecido fibroso e cicatricial, formando nódulos que alteram a estrutura e a circulação sanguínea do órgão.


Como consequência, o fígado perde sua capacidade de desempenhar suas funções normais, como produzir bile, colesterol, proteínas, fatores de coagulação, regular os níveis de açúcar no sangue, metabolizar o álcool, medicamentos e toxinas, entre outras.

A cirrose é uma doença silenciosa e progressiva, que pode demorar anos para se manifestar.


Ela é a fase final de diversas doenças hepáticas que causaram inflamação crônica no fígado. A cirrose pode levar a complicações graves e potencialmente fatais, como sangramento digestivo, ascite (acúmulo de líquido na cavidade abdominal), encefalopatia hepática (alteração mental causada pelo mau funcionamento do fígado), insuficiência hepática e câncer de fígado.


Causas da cirrose

As principais causas da cirrose são:

  • O álcool é uma substância tóxica para o fígado, que precisa metabolizá-lo para eliminá-lo do organismo. Quando o consumo de álcool é superior à capacidade do fígado de processá-lo, ocorre um acúmulo de álcool e seus metabólitos no órgão, causando inflamação, lesão celular e fibrose. A quantidade e a frequência de álcool que podem causar cirrose variam de acordo com cada indivíduo, mas estima-se que o risco aumente quando o consumo é superior a 20 gramas por dia nas mulheres e 40 gramas por dia nos homens.

  • As infecções crônicas pelos vírus da hepatite B ou C, que são transmitidos pelo contato com sangue ou fluidos corporais contaminados. Esses vírus invadem as células do fígado e provocam uma resposta imunológica do organismo, que tenta eliminá-los. Esse processo gera inflamação persistente no fígado, que pode evoluir para fibrose e cirrose ao longo dos anos. A hepatite B pode ser prevenida pela vacinação, enquanto a hepatite C pode ser curada com tratamento antiviral específico.

  • As doenças autoimunes do fígado, como a hepatite autoimune e a colangite biliar primária. Nessas doenças, o sistema imunológico do próprio indivíduo ataca as células do fígado ou as vias biliares, causando inflamação crônica e destruição progressiva do órgão. As causas dessas doenças são desconhecidas, mas podem estar relacionadas a fatores genéticos ou ambientais. O tratamento consiste no uso de medicamentos imunossupressores.

  • As doenças metabólicas do fígado, como a esteatose hepática (acúmulo de gordura no fígado) e a hemocromatose (acúmulo de ferro no fígado). Essas doenças estão associadas a fatores como obesidade, diabetes, hiperlipidemia (colesterol alto), alcoolismo e hereditariedade. Elas causam danos nas células do fígado e podem levar à inflamação crônica e à fibrose. O tratamento envolve o controle dos fatores de risco e a correção dos distúrbios metabólicos.

  • Outras causas menos frequentes de cirrose são: o uso prolongado ou inadequado de certos medicamentos (como antibióticos, anti-inflamatórios, anticonvulsivantes), as doenças genéticas do fígado (como a doença de Wilson, a deficiência de alfa-1-antitripsina, a fibrose cística), as doenças vasculares do fígado (como a síndrome de Budd-Chiari, a trombose da veia porta), as infecções bacterianas ou parasitárias do fígado (como a tuberculose, a esquistossomose, a hidatidose), entre outras.

Sintomas da cirrose

A cirrose pode não causar sintomas nas fases iniciais, sendo muitas vezes descoberta por acaso em exames de rotina ou de imagem. Quando os sintomas aparecem, eles podem variar de acordo com o grau de comprometimento do fígado e a presença de complicações. Os sintomas mais comuns da cirrose são:

  • Fadiga, fraqueza, perda de apetite, perda de peso, náuseas, vômitos, dor ou desconforto abdominal.

  • Icterícia (coloração amarelada da pele e dos olhos), causada pelo acúmulo de bilirrubina no sangue, que não é adequadamente eliminada pelo fígado.

  • Prurido (coceira na pele), causado pelo acúmulo de sais biliares no sangue, que não são adequadamente eliminados pelo fígado.

  • Ascite (acúmulo de líquido na cavidade abdominal), causada pela hipertensão portal (aumento da pressão nas veias que drenam o sangue do intestino para o fígado) e pela diminuição da produção de proteínas pelo fígado. A ascite pode provocar distensão abdominal, dificuldade respiratória e infecção bacteriana do líquido (peritonite bacteriana espontânea).

  • Varizes esofágicas (dilatação das veias do esôfago), causadas pela hipertensão portal, que desvia o sangue do fígado para outras veias. As varizes esofágicas podem se romper e causar sangramento digestivo alto, manifestado por vômito com sangue ou fezes negras e pastosas (melena).

  • Encefalopatia hepática (alteração mental causada pelo mau funcionamento do fígado), que se manifesta por confusão, sonolência, agitação, tremores, alteração da coordenação motora e até coma. A encefalopatia hepática é causada pelo acúmulo de substâncias tóxicas no sangue, que não são adequadamente metabolizadas pelo fígado e afetam o cérebro.

  • Ginecomastia (aumento das mamas nos homens) e impotência sexual, causados pela diminuição da produção de testosterona e pelo aumento da produção de estrogênio pelo fígado.

  • Esplenomegalia (aumento do baço), causada pela hipertensão portal, que congestiona o sangue no baço. A esplenomegalia pode levar à diminuição das células sanguíneas (anemia, leucopenia e trombocitopenia), aumentando o risco de infecções e sangramentos.

  • Aranhas vasculares (pequenas dilatações dos vasos sanguíneos na pele), causadas pelo aumento da produção de estrogênio pelo fígado.

  • Osteoporose (perda de massa óssea), causada pela deficiência de vitamina D e cálcio, que não são adequadamente absorvidos pelo intestino devido à falta de bile.

  • Carcinoma hepatocelular (câncer de fígado), que pode se desenvolver em pacientes com cirrose avançada. Os sintomas podem incluir dor abdominal, perda de peso, icterícia e ascite.

Diagnóstico da cirrose

O diagnóstico da cirrose é feito com base na história clínica do paciente, nos exames físico e laboratorial e nos exames de imagem. Os principais exames utilizados para o diagnóstico da cirrose são:

  • Exames laboratoriais: incluem hemograma completo, coagulograma, bioquímica hepática (bilirrubinas, transaminases, fosfatase alcalina, gama-glutamiltransferase), albumina, creatinina, eletrólitos e sorologias para hepatites virais. Esses exames permitem avaliar o grau de inflamação, fibrose, disfunção e infecção do fígado. Além disso, podem ser usados marcadores específicos da cirrose, como o índice de fibrose hepática (FIB-4), o índice de função hepática (MELD) e o índice de gravidade da cirrose (Child-Pugh).

  • Exames de imagem: incluem ultrassonografia abdominal, tomografia computadorizada, ressonância magnética e elastografia hepática. Esses exames permitem visualizar a estrutura e a circulação do fígado e detectar alterações como nódulos, aumento do baço, ascite, varizes esofágicas e câncer de fígado. A elastografia hepática é um exame que mede a rigidez do fígado por meio de ondas sonoras, sendo útil para estimar o grau de fibrose.

  • Biópsia hepática: consiste na retirada de um pequeno fragmento do fígado por meio de uma agulha fina introduzida pela pele ou por via endoscópica. O fragmento é analisado ao microscópio para confirmar o diagnóstico de cirrose e determinar a sua causa e o seu estágio. A biópsia hepática é um exame invasivo e pode causar complicações como sangramento, infecção e perfuração. Por isso, ela é reservada para casos em que os outros exames não são conclusivos ou quando há suspeita de câncer de fígado.

Tratamento da cirrose

O tratamento da cirrose visa controlar a causa da doença, retardar a progressão da fibrose, aliviar os sintomas, prevenir e tratar as complicações e melhorar a qualidade de vida do paciente. O tratamento depende do tipo e do estágio da cirrose e pode incluir:

  • Tratamento medicamentoso: inclui medicamentos que atuam sobre a causa da cirrose (como antivirais para hepatites virais, imunossupressores para doenças autoimunes, quelantes para hemocromatose) ou sobre os sintomas e as complicações da cirrose (como diuréticos para ascite, betabloqueadores para varizes esofágicas, lactulose para encefalopatia hepática). Alguns medicamentos podem ser contraindicados ou exigir ajuste de dose em pacientes com cirrose, por isso é importante consultar o médico antes de usá-los.

  • Tratamento nutricional: consiste em uma dieta balanceada e adequada às necessidades do paciente com cirrose. A dieta deve fornecer calorias e proteínas suficientes para evitar a desnutrição e a perda muscular, mas sem sobrecarregar o fígado. Alguns alimentos devem ser evitados ou limitados, como o álcool, as gorduras saturadas e trans, os açúcares refinados, o sal e os alimentos ricos em sódio. Alguns nutrientes podem ser suplementados conforme a indicação médica, como as vitaminas A, D, E e K, o cálcio, o zinco e o selênio.

  • Tratamento endoscópico: consiste na introdução de um tubo flexível com uma câmera na ponta (endoscópio) pela boca até o esôfago ou o estômago. O endoscópio permite visualizar as varizes esofágicas ou gástricas e realizar procedimentos para prevenir ou tratar o sangramento dessas veias. Os principais procedimentos são a ligadura elástica (colocação de anéis elásticos nas varizes para interromper o fluxo sanguíneo) e a escleroterapia (injeção de substâncias que provocam a obstrução das varizes).

  • Tratamento cirúrgico: consiste na realização de cirurgias para desviar o sangue da veia porta (a veia que leva o sangue do intestino para o fígado) para outras veias, reduzindo a hipertensão portal e o risco de sangramento das varizes. As principais cirurgias são a derivação portossistêmica intra-hepática transjugular (TIPS) e a derivação portossistêmica extra-hepática. Essas cirurgias podem causar complicações como encefalopatia hepática, trombose e infecção.

  • Transplante hepático: consiste na substituição do fígado doente por um fígado saudável, proveniente de um doador falecido ou vivo. O transplante hepático é a única opção curativa para pacientes com cirrose avançada, que apresentam insuficiência hepática ou câncer de fígado. O transplante hepático é um procedimento complexo e de alto risco, que requer uma avaliação rigorosa do paciente e do doador, além de um acompanhamento médico contínuo. O paciente transplantado deve tomar medicamentos imunossupressores pelo resto da vida para evitar a rejeição do novo órgão.

Prevenção da cirrose

A prevenção da cirrose envolve a adoção de hábitos saudáveis que protejam o fígado e evitem as doenças que podem causar a cirrose. As principais medidas preventivas são:

  • Evitar ou moderar o consumo de álcool, que é a causa mais comum de cirrose no Brasil e no mundo. O consumo seguro de álcool é de até uma dose por dia para as mulheres e até duas doses por dia para os homens. Uma dose equivale a 350 ml de cerveja, 150 ml de vinho ou 45 ml de destilado.

  • Prevenir as infecções pelos vírus da hepatite B ou C, que são causas importantes de cirrose no Brasil e no mundo. A prevenção inclui a vacinação contra a hepatite B, o uso de preservativos nas relações sexuais, o uso de material esterilizado ou descartável para injeções, tatuagens, piercings e manicure, o não compartilhamento de objetos cortantes ou perfurantes (como lâminas, agulhas, seringas) e o teste sorológico periódico para detecção precoce da infecção.

  • Controlar os fatores de risco para as doenças metabólicas do fígado, como obesidade, diabetes, hiperlipidemia e alcoolismo. A prevenção inclui a manutenção de um peso saudável, a prática regular de atividade física, uma alimentação equilibrada e pobre em gorduras saturadas e trans, açúcares refinados e sal, o controle dos níveis de glicose e colesterol no sangue e a realização de exames periódicos para avaliar a função hepática.

  • Consultar o médico antes de usar qualquer medicamento, especialmente se for por tempo prolongado ou em doses elevadas. Alguns medicamentos podem ser tóxicos para o fígado ou interagir com outros medicamentos, prejudicando o seu metabolismo. O médico deve orientar sobre a dose adequada, a duração do tratamento e os possíveis efeitos colaterais dos medicamentos.

  • Evitar ou tratar as outras causas menos frequentes de cirrose, como as doenças autoimunes, genéticas, vasculares, bacterianas ou parasitárias do fígado. A prevenção inclui o diagnóstico precoce dessas doenças por meio de exames clínicos e laboratoriais e o tratamento específico conforme a indicação médica.

A cirrose é uma doença grave que afeta milhões de pessoas no Brasil e no mundo. Ela pode ser prevenida ou retardada com medidas simples que preservam a saúde do fígado. Quando diagnosticada precocemente, ela pode ser tratada com medicamentos, dietas, endoscopias, cirurgias ou transplantes que melhoram a qualidade e a expectativa de vida dos pacientes.


Por isso, é importante consultar o médico regularmente e realizar os exames necessários para avaliar a função hepática.

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